30 de jun. de 2008

Barbantes

08 de junho de 2005 (quarta)

Uma linha ou uma espécie de barbante existia dentro da minha cabeça. Entrava por um ouvido e saia pelo outro. Havia outra ligação que entrava pelo nariz. E, por dentro, ligava minhas mandíbulas. Doía muito, principalmente a do ouvido.

Os barbantes incomodavam bastante. Tentei puxá-los para ver se saiam de dentro de mim. Puxei primeiro o do ouvido, mas doía (dava pra sentir a dor no próprio sonho). Então puxei o do nariz; à medida que puxava, sentia uma coisa por dentro se desprendendo. Quando puxei de vez, minha mandíbula se deslocou e meu rosto começou a se deformar.


Fim

21 de jun. de 2008

Paz

27 de maio de 2005 (sexta)

Minha família tinha viajado a Belém do Pará num ônibus que, por incrível que pareça, pertencia à banda Calypso. Só que eles se esqueceram de mim; fiquei ainda dormindo no quarto. Minha tia viria de vez em quando checar a casa e trocar a água do cachorro.

À noite fui a uma festa numa praça à beira-mar. Nessa praça, havia mesas e barracas com gente bebendo e conversando. Sentei-me a uma delas e de repente todo mundo começou a jogar bolas de papel um no outro (muito comum em salas de aula); tinha gente que usava até estilingue. A confusão chegou a ficar mais séria e algumas pessoas começaram a brigar.

Levantei da cadeira e fiz um protesto pedindo por paz – tinha feito até camisetas e adesivos, inclusive uma bandeira. Chamei as pessoas para irem à praia, onde eu e um menininho faríamos uma encenação pelo pedido de paz. Cavei um buraco largo na areia da praia, onde o menino entrou, depois o cobri com uma bandeira – listrada de azul e branco, como a bandeira do Uruguai. Fiquei orgulhoso dessa encenação, lembro que no slogan tinha algo escrito como “Não à violência”.

[pausa para rir]

Eu queria distribuir os adesivos para todo mundo, mas os tinha entregue à Sandra Annemberg (do Jornal Hoje). Fui até ela para pedir os adesivos, mas a mesma fez uma cara e um gesto como se estivesse ocupada (e também irritada).

Voltei à praia. Sandra chegou com os adesivos (um pouco arrependida de não ter entregado de imediato) e comecei a distribuir às pessoas. Alguns dos adesivos guardavam um bilhete esverdeando, onde estava escrito ANTIMILITARISMO.

Uma garotinha que estava conosco, e por quem eu tinha um grande afeto, havia se afastado da gente. As pessoas diziam que ela tinha ido às pedras e que poderia se machucar ou se cortar. Fui procurá-la. Quando a encontrei, ela estava entre as pedras e o mar, chorando e um pouco ferida. A menina passava uma energia pura. Peguei-a nos braços e, enquanto a levava de volta à praia, dava conselhos tão afáveis que emocionavam a mim mesmo. Acho que eu disse algo como: “Não faça isso... porque não quero te perder”.



Pintura: "Alison"
Autora: Gaye Lynne LaGuire

6 de jun. de 2008

Cemitério cearense

9 de julho de 2004 (quarta)

Eu e minha prima (uma gêmea) estávamos a uma mesa ao ar livre. Parecia temporada de férias. O tempo não estava claro, nem muito escuro – sempre tem uma cor característica de sonhos: meio cinza. Minha prima reclamava porque não tinha nada para comer nem o que fazer, e queria ir embora.

Próxima cena:
Estava com meus pais num carro percorrendo uma estrada à alta velocidade, estava mais ou menos escuro (tipo anoitecendo). Meu pai atropelou um cara de bicicleta, mas não voltou atrás para prestar socorro (por medo talvez), não sabíamos se o cara tinha morrido. Mas cheguei a ver que o carro passou em cima da roda bicicleta, machucando apenas a perna do sujeito. Eu estava no banco de trás, do lado direito.

Ainda no carro, subimos uma ladeira que dava para um local urbanizado com várias casas. Depois, minha mãe e eu saímos do carro, peguei uma bicicleta e entrei num lugar que parecia ser um cemitério. Entrei de bicicleta no cemitério, era bem espaçoso e bem repartido; a bicicleta podia passar entre os túmulos – túmulos formosos, a maioria em mármore. Tinha um em forma de triângulo, feito em mármore negro. Cheguei a lembrar de um cemitério que vi no Ceará.



Depois subi uma pequena ladeira que dava para um patamar de mármore verde-escuro, onde seguia outra ladeira de cimento branco para outro patamar no qual havia uma capela de cor verde-escuro (mais clara que a do 1º patamar) coberta de flores. Nos patamares havia gente, principalmente senhoras, muitas senhoras. Cheguei a ver minha avó paterna, olhando para os túmulos (de longe, a maioria dos túmulos eram brancos).

Ouvi uma das senhoras falar de uma santa que chorava mel. A senhora falava alto e indiscretamente. Saí da bicicleta e olhei para a capela (que tinha um formato diferente) para ver se tinha a tal santa, mas não vi nada. Fiquei um tempo no primeiro patamar observando muita gente que subia e descia, parecia uma procissão.

Assim que desci, me deparei com uma mulher encostada na torre triangular de mármore de um túmulo, que era o último da rua principal do cemitério. Essa mulher era grande, madura e feia. Toda maquiada (e mal maquiada), parecia mais uma bruxa, com sombra bem escura nas pálpebras. Lembro que sua pele era escura, mas não chegava a ser negra. Ela era um pouco forte, mas não chegava a ser gorda. Estava chorando, chorando mel, chorava muito, que as gotas de mel caíam no chão. Fiquei com uma grande dúvida: era essa a santa de quem haviam falado? Fiquei com um pouco de medo.

Depois de me distanciar, vi um homem se aproximando, mas só conseguia ver os braços dele, segurando um tubo preto enorme. O tubo era tão grande que cobria o seu rosto. Olhei para o tubo e ouvi um estrondo.

E o sonho acabou.


Acredite ou não.